Trechos de Grande Sertão: veredas

Livro: Grande Sertão: Veredas
Autora: João Guimarães Rosa
Data: 25/02/2012
Local: La Boulangerie
Responsável pela discussão: Mariana
Trechos desse grandioso livro que causou no grupo dois tipos de reação: amor (pela maioria) e ódio.
Aliás, mesma reação causada na época em que foi publicado pela primeira vez.
Interessantíssima a trajetória de Guimarães Rosa, homem culto que falava mais de 10 idiomas.
Livro de estrutura muito diversa de todos os outros que já lemos no clube, mas que contém diamantes em meio ao rio de palavras, muitas delas inventadas pelo autor, mas que dentro do contexto fazem todo o sentido. Genial!

Trechos de Grande Sertão: veredas
Guimarães Rosa

1)      ... quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.

2)      ... para pensar longe, sou cão mestre – o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!

3)      Uma coisa é por idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias.

4)      Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura.

5)      Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!

6)      ... o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.

7)      Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre.

8)      ... não ache que a religião afraca.

9)      Lua de com ela se cunhar dinheiro.

10)   Diz-se que tem saudade de ideia e saudade de coração...

11)   ... toda saudade é uma espécie de velhice.

12)   O sertão é do tamanho do mundo.

13)   Perdoar é sempre o justo e certo.

14)   Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos.

15)   Deveras se vê que o viver da gente não é tão cerzidinho assim?

16)   ... homem sem anjo-da-guarda.

17)   Em sua vida é assim? Na minha, agora é que vejo, as coisas importantes, todas, em caso de curto acaso foi que se conseguiram.

18)   O que demasia na gente é a força feia do sofrimento, própria, não é a qualidade do sofrente.

19)   ... a natureza da gente é muito segundas-e-sábados.

20)   Se amor? Era aquele latifúndio. Eu ia com ele até o rio Jordão... Diadorim tomou conta de mim.

21)   Porque, quando curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é. Zé Bebelo falava sempre com a máquina de acerto – inteligência só.

22)   Doido, era? Quem não é, mesmo eu ou o senhor?

23)   E, digo ao senhor como foi que eu gostava de Diadorim: que foi que, em hora nenhuma, vez nenhuma, eu nunca tive vontade de rir dele.

24)   Para ódio e amor que dói, amanhã não é consolo.

25)   Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.

26)   Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

27)   ... a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!

28)   Obedecer é mais fácil que entender.

29)   A gente sabe mais de um homem, é o que ele esconde.

30)   Rir, antes da hora, engasga.

31)   Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.

32)   Somente com a alegria é que a gente realiza bem – mesmo até as tristes ações.

33)   A primeira coisa, que um para ser alto nesta vida tem de aprender, é topar firme as invejas dos outros restantes ...

34)   Sorte é isto. Merecer e ter...

35)   ... pegaram nas nuvens do céu com mãos de azul.

36)   Um chefe carece de saber é aquilo que ele não pergunta.

37)   O perfume do nome da Virgem Maria perdura muito; às vezes dá saldos para uma vida inteira...

38)   Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma só coisa – a inteira – cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver – e essa pauta cada um tem – mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar.

39)   Um lugar conhece outro é por calúnias e falsos levantados; as pessoas também, nesta vida.

40)   O contrato de coragem de guerreiros não se faz com vara de meirinho, não é com dares e tomares.

41)   Sofri os pavores disso – da mão da gente ser capaz de ato sem o pensamento ter tempo.

42)   Raiva tampa o espaço do medo, assim como do medo a raiva vem.

43)   ... aprender-a-viver é que é o viver, mesmo.

44)   Quando estou rezando, estou fora de sujidade, à parte de toda loucura.


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